Há um fenómeno que observo com curiosidade. As cartas formais e os ofícios que vêm sendo substituídos por mensagens de correio electrónico passaram, quase todas, a ter uma fórmula de tratamento nada formal. Em vez da tradicional saudação cordial, do tipo "Exm.º Senhor Dr. Fulano de Tal", ou "Prezada Dr.ª Tal", a maior parte das pessoas passou a escrever, muito simplesmente, "Bom dia", ou "Boa tarde", ou "Boa noite", sem mais.
Isto é estranho, porque não há motivo para eliminar a forma de tratamento introdutória apenas porque o suporte é informático, em vez de ser o papel, e mais estranho ainda porque não é garantido que o destinatário lerá a mensagem na mesma parte do dia em que ela foi escrita, pelo que o "Bom dia" pode ser lido à noite e o "Boa tarde" de manhã.
O que é que aconteceu às boas maneiras das cartas formais? Onde está a cerimónia de antigamente, no tratamento de pessoas desconhecidas? Que boa razão há para deixarmos de ter aquele trabalho mental saudável, a pensar sobre qual a forma de tratamento mais adequada para nos dirigirmos a este ou àquele indivíduo com quem não temos confiança nem intimidade?
Penso que, cada vez mais, as pessoas têm dificuldade em fazer uso de registos linguísticos distintos, conforme a situação e o interlocutor. Tendem a saudar toda gente com um familiar "Tudo bem?", esquecendo-se de que por vezes nem o momento nem a pessoa a quem se dirigem justificam tal familiaridade. Até há quem escreva "Boas" no início de um e-mail, mesmo quando este é dirigido a colegas desconhecidos!... Não concordo. Uma coisa é a simpatia, outra a falta de noção do que é apropriado.
E já todos terão notado que os "cumprimentos" finais também são cada vez mais substituídos por "beijinhos" virtuais, ou até por "bjs". Qualquer dia, até as mensagens formais de homem para homem cairão nesse ridículo. Mais vale não escrever nada no fim, senhores! Ou então deixar que a mensagem termine sobriamente com a nossa assinatura predefinida: nome, cargo, empresa, morada, telefone, etc. Sempre é menos mau.
(S. Leite in Língua à Portuguesa)
Isto é estranho, porque não há motivo para eliminar a forma de tratamento introdutória apenas porque o suporte é informático, em vez de ser o papel, e mais estranho ainda porque não é garantido que o destinatário lerá a mensagem na mesma parte do dia em que ela foi escrita, pelo que o "Bom dia" pode ser lido à noite e o "Boa tarde" de manhã.
O que é que aconteceu às boas maneiras das cartas formais? Onde está a cerimónia de antigamente, no tratamento de pessoas desconhecidas? Que boa razão há para deixarmos de ter aquele trabalho mental saudável, a pensar sobre qual a forma de tratamento mais adequada para nos dirigirmos a este ou àquele indivíduo com quem não temos confiança nem intimidade?
Penso que, cada vez mais, as pessoas têm dificuldade em fazer uso de registos linguísticos distintos, conforme a situação e o interlocutor. Tendem a saudar toda gente com um familiar "Tudo bem?", esquecendo-se de que por vezes nem o momento nem a pessoa a quem se dirigem justificam tal familiaridade. Até há quem escreva "Boas" no início de um e-mail, mesmo quando este é dirigido a colegas desconhecidos!... Não concordo. Uma coisa é a simpatia, outra a falta de noção do que é apropriado.
E já todos terão notado que os "cumprimentos" finais também são cada vez mais substituídos por "beijinhos" virtuais, ou até por "bjs". Qualquer dia, até as mensagens formais de homem para homem cairão nesse ridículo. Mais vale não escrever nada no fim, senhores! Ou então deixar que a mensagem termine sobriamente com a nossa assinatura predefinida: nome, cargo, empresa, morada, telefone, etc. Sempre é menos mau.
(S. Leite in Língua à Portuguesa)
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