Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor!
Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para, na mesma cama, te esperar.
Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força.
Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos.
Não haverá parte do teu corpo em que meus dedos não passarão.
Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Não haverá parte do teu corpo em que meus dedos não passarão.
Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito filho da puta!
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), poeta brasileiro
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