sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Fernando Pessoa (1888-1935)


      NO COMBOIO DESCENDENTE

      No comboio descendente
      Vinha tudo à gargalhada.
      Uns por verem rir os outros
      E outros sem ser por nada
      No comboio descendente
      De Queluz à Cruz Quebrada...

      No comboio descendente
      Vinham todos à janela
      Uns calados para os outros
      E outros a dar-lhes trela
      No comboio descendente
      De Cruz Quebrada a Palmela...

      No comboio descendente
      Mas que grande reinação!
      Uns dormindo, outros com sono,
      E outros nem sim nem não
      No comboio descendente
      De Palmela a Portimão.

         Fernando Pessoa

Sem comentários:

Enviar um comentário