quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Corrupção 'made in Portugal'


"A NASA decide arranjar um astronauta europeu para ir a Marte. São seleccionados um inglês, um francês e um português. O primeiro a ser entrevistado é o inglês. Quando chega a altura de discutir a recompensa, o inglês pede nove milhões de dólares. O funcionário da NASA acha muito e quer saber porquê. O inglês explica que é casado, tem três filhos e que uma missão tão perigosa tem de ser devidamente paga. «Está bem, vamos ver”, diz o americano, mandando entrar o francês. O francês pede nove milhões de dólares. O entrevistador insiste em saber a razão de uma soma tão grande. O francês explica: «Está a ver - sou casado, tenho três filhos. Cinco milhões de dólares são para mim e para a minha família. E os outros quatro milhões de dólares são para dividir entre mim e as minhas duas amantes.» 

Chega então a altura de entrar o português. Passa todos os testes e, mais uma vez o americano quer saber quanto é que o astronauta português quer cobrar. O português também pede nove milhões de dólares. Quando o americano lhe pede explicações, o nosso compatriota arregaça as mangas e avança com a resposta: «Ora bem... três milhões de dólares, para já, são para si, para o meu amigo me escolher a mim. E ficam seis. Três milhões de dólares são para mim. E os outros três milhões são para quem for a Marte, que se há-de arranjar alguém.» 

Esta anedota ilustra perfeitamente a arte portuguesa de subornar. O suborno à portuguesa não é nada mefistofélico nem luciferino. É um esquema simpático entre amigos, em que «ganham todos». Não há chantagem nem culpa - é somente um contrato entre espertalhões, em que a única pessoa que se lixa é o terceiro, o desconhecido, ou o abstracto."

O charme do homem do lixo

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Prof. Agostinho da Silva (1906-1994)



George Agostinho Baptista da Silva (1906-1994) foi um filósofo, poeta e ensaísta português. O seu pensamento combina elementos de panteísmo, milenarismo e ética da renúncia, afirmando a Liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Agostinho da Silva pode ser considerado um filósofo prático empenhado, através da sua vida e obra, na mudança da sociedade. Passou considerável tempo de sua vida no Brasil. O tema da conversa de hoje é 'Liberdade e Destino'...

Família Broá


Há 290 anos o relojoeiro e ourives Pedro [ou Pêro] Brohã, cristão-velho, era acusado de "calvinismo", "heresia" e "apostasia". Natural de Montalban ou Montauban, França, vivia em Coimbra. Detido a 29 de Março de 1724, fugiu da cadeia da Inquisição de Coimbra a 12 de Abril. Recapturado em Lisboa a 24 de Outubro, ouve a sentença a 10 de Abril de 1725. Noutro processo, ouve a sentença a 6 de Maio desse ano, tendo-se realizado Auto de Fé nesse dia. Mas, talvez porque fosse estrangeiro, são-lhe emitidos termos de segredo a 7 de Maio de 1726 e de ida (e de degredo) a 20 de Maio de 1726 [in Torre do Tombo (PT/TT/TSO-IC/025/09902)]
Estou a tentar encontrar a relação entre este 'Brohã' e antepassados meus de apelido 'Broa', por vezes grafado como 'Broã' ou 'Bruá'. Quem tiver informações que possam dar luz ao assunto, por favor pode usar a caixa de comentários.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A fuga do Fortunato

Há-de vir um Natal e será o primeiro


  LADAINHA DOS PÓSTUMOS MORTAIS

   Há-de vir um Natal e será o primeiro
   em que se veja à mesa o meu lugar vazio


   Há-de vir um Natal e será o primeiro
   em que hão-de me lembrar de modo menos nítido


   Há-de vir um Natal e será o primeiro
   em que só uma voz me evoque a sós consigo


   Há-de vir um Natal e será o primeiro
   em que não viva já ninguém meu conhecido


   Há-de vir um Natal e será o primeiro
   em que nem vivo esteja um verso deste livro


   Há-de vir um Natal e será o primeiro
   em que terei de novo o Nada a sós comigo


   Há-de vir um Natal e será o primeiro
   em que nem o Natal terá qualquer sentido


   Há-de vir um Natal e será o primeiro
   em que o Nada retome a cor do Infinito 


    David Mourão-Ferreira in Obra Poética

domingo, 28 de dezembro de 2014

Contributo para o dicionário do ano


Os dicionários costumam procurar as palavras do ano por esta época. Pouco versado em etimologia e gramática, fico-me por algumas velhas palavras que ganharam novo e variado significado em 2014:

Contabilista. Substantivo de dois géneros. Pessoa perita em contabilidade. Único responsável pela sucessiva ocultação de prejuízos, sem que as administrações percebam.

Saída. Substantivo feminino. Acto ou efeito de sair. Abalada. Partida. Quando conjugado com o adjectivo limpa, significa poder pedir dinheiro em nome próprio.

Investir. Verbo intransitivo, transitivo e pronomial. Atirar-se impetuosamente a alguém. Empregar capitais. Estourar centenas de milhões de euros numa só aplicação (telecomunicações) ou num só minuto (Goldman Sachs), num só banco e/ou grupo familiar.

Sugestão de leitura


Se pertence ao grupo de leitores que se interroga "Mas então, dar peidos também é uma arte?", a resposta está neste ensaio conciso e teórico-físico do séc. XVIII. Clássico da literatura cómica, escatológica e pseudocientífica, "A Arte de Dar Peidos" confirma-nos que o peido é uma necessidade da natureza, uma condição de boa saúde, que pode e deve ser assumido como uma fonte de prazer. E até de arte, pois dar peidos não custa, custa é saber dá-los!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Conheça a cidade de Coimbra

Fernando Pessoa (1888-1935)


      NO COMBOIO DESCENDENTE

      No comboio descendente
      Vinha tudo à gargalhada.
      Uns por verem rir os outros
      E outros sem ser por nada
      No comboio descendente
      De Queluz à Cruz Quebrada...

      No comboio descendente
      Vinham todos à janela
      Uns calados para os outros
      E outros a dar-lhes trela
      No comboio descendente
      De Cruz Quebrada a Palmela...

      No comboio descendente
      Mas que grande reinação!
      Uns dormindo, outros com sono,
      E outros nem sim nem não
      No comboio descendente
      De Palmela a Portimão.

         Fernando Pessoa

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Quem criou o Pai Natal?


Se acredita no Pai Natal, não leia este texto. Por outro lado, se está entre os que acham que o velhote bonacheirão de fato encarnado e barbas brancas é uma invenção da marca que produz aquele refrigerante escuro e gasoso, continue a ler, pode ser que se surpreenda. 

Para simplificar, pode afirmar-se que o personagem tem duas origens principais. A primeira está ligada a São Nicolau, bispo de Mira (na Anatólia, actual Turquia) que viveu no século IV e se tornou lendário porque, para além de um vasto rol de outros milagres, oferecia anonimamente presentes aos mais necessitados. Este santo é representado como um homem sério de longas barbas brancas, com a capa e mitra vermelhas correspondentes ao seu cargo eclesiástico. A segunda tradição é de origem anglo-saxónica, centrada na figura do Father Christmas, que já surge em cânticos do século XV e ganha proeminência no contexto da oposição ao puritanismo que dominou a Inglaterra no século XVII. Os puritanos consideravam esta tradição demasiado pagã e combateram-na, sendo posteriormente satirizados em textos como ‘O Julgamento do Pai Natal’ de Josiah King. 

Nos Estados Unidos, estas duas tradições viriam a juntar-se dando origem ao actual Santa Claus, popularizado no século XIX, no poema de Clement Clarke Moore ‘Uma visita da São Nicolau’ e ilustrado pelo caricaturista Thomas Nast, autores que criaram as bases para a iconografia actual da simpática figura. O primeiro anúncio da Coca-cola com o Pai Natal é de 1930 e a celebridade da marca ajudou a criar o mito urbano de que teria sido a inventora da figura.

Christmas stamps

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Em Cuba...

Sugestão de leitura


    A CARESTIA DA VIDA

    A trinta e cinco reis custa a pescada:
    O triste bacalhau a quatro e meio:
    A dezasseis vinténs corre o centeio:
    Do verde a trinta reis custa a canada.

    A sete, e oito tostões custa a carrada
    Da torta lenha, que do monte veio:
    Vende as sardinhas o galego feio
    Cinco ao vintém; e seis pela calada.

    O cujo regatão vai com excesso,
    Revendendo as pequenas iguarias,
    Que da pobreza são todo o regresso.

    Tudo está caro: só em nossos dias,
    Graças ao Céu! Temos em bom preço
    Os tramoços, o arroz e as Senhorias.

    (Paulino Cabral de Vasconcelos)



Paulino Cabral de Vasconcelos, conhecido como Abade de Jazente, foi um poeta português nascido em Amarante em 06 de Maio de 1719 e morreu em 20 de Novembro de 1789. Estudou Direito Canónico em Coimbra em 1735 e formou-se em 1741. Foi nomeado Abade de Jazente em 1752. Além de obras religiosas, escreveu poesia.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Manuel Moreira (1618-1645)


Manuel Moreira (1618-1645) é meu familiar e aqui lhe presto a minha homenagem. Filho de Diogo Moreira e Maria Dias, Manuel Moreira aparece referenciado na monografia do Espinhal de João Manuel Saraiva de Carvalho (Espinhal, 800 anos de história) como um dos heróis da Guerra da Restauração, morto na frente do Alentejo, em Abril de 1645, conforme registo de óbitos da mesma freguesia. É possível que usasse o mesmo tipo de vestuário e armamento dos que a gravura ilustra como sendo dos soldados desse período.

São rosas, senhor, são rosas...


"Devido ao aumento do volume de tráfego, a LUFTHANSA vai colocar à disposição dos seus clientes na rota Lisboa-Frankfurt, para além dos voos regulares de horário de inverno, um voo adicional nos dias 27, 28, 29 e 30 de Dezembro de 2014", afirmou fonte da companhia.

Em 2011, a companhia aérea irlandesa RYANAIR enviou aos dirigentes do Sindicato Nacional de Pessoal de Voo da Aviação Civil dez rosas em representação dos seus dez dias de greve e do apreço que sentiam por eles aumentarem o seu negócio. O sindicato já fez saber à LUFTHANSA que espera ser merecedor de um ramo de - pelo menos! - quatro rosas.

Licor de tangerina


Tenha à mão a tradicional faca e alguidar e uma colher que não pode ser de pau. A da sopa serve na perfeição. Os ingredientes que necessita são seis ou oito tangerinas, 0,5l de aguardente branca e 0,5kg de açúcar. Não substitua o açúcar por adoçante; também servia, mas não é a mesma coisa. 
Extraia a casca às tangerinas e, com a colher, retire-lhe o mais que puder de parte branca. Há quem diga que esta parte branca é comestível, mas não garanto. 
Depois, lave-as, corte-as em tiras largas e meta-as num frasco de boca larga com o açúcar e a aguardente. Um frasco bem lavado tem outra apresentação, naturalmente. 
Feche o frasco e agite-o um pouco. Pelo sim, pelo não, afaste-o o mais possível de roupa lavada… Deixe ficar assim em infusão 45 dias; uma vez por outra, durante esse tempo, agite o frasco. Sem deixar cair. 
Depois é só filtrar o licor e guardá-lo. Noutro frasco, está bem de ver. Para o filtrar, passe-o em papel filtro, num pano ou num passador muito fino. 
Sei, por experiência, que a tentação é grande, mas nada de chupar os dedos, está bem?

domingo, 21 de dezembro de 2014

Quem é o economista arejado?


Adivinhe a cor política de um economista que se opõe ao aumento do salário mínimo e que defende uma maior suavização na protecção do emprego como forma de reactivar o crescimento.

Joana Vasconcelos


Um galo gigante. Um galo de Barcelos com sete metros de altura. De dia reluzem os azulejos que o compõem, à noite brilham os leds que nele estão instalados. É assim a obra que Joana Vasconcelos preparou para as comemorações oficiais dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. A peça, a ser exposta ao ar livre em Copacabana, vai ser inaugurada a 10 de Junho de 2015 e pelo Brasil ficará até ao final do ano. Talvez para sempre.

Nota de despedida


"Meu amor,
É com a mais profunda mágoa que te escrevo esta nota de despedida, por sentir que já nada tenho para te dar. O nosso amor assentou num pacto de franqueza e lealdade, que nem eu nem tu infringimos ao longo destes anos.
Sei que estiveste a meu lado tanto nos momentos de júbilo como nos de maior amargura. Juntos procurámos caminhos que nos conduzissem à espiritualidade profunda e à serenidade sem limites.
Chegado a este ponto, sei que nunca te traí e que tu nunca me traíste. Deixei de acreditar na política e nos políticos, na cultura e nos seus gurus, no futuro e nos seus amanhãs radiosos, mas nunca desisti de acreditar em ti.
É a consciência que tenho do azedume que agora me enche a alma e a convicção de que não tenho o direito de manchar com ele a alegria dos teus dias, que me leva a pôr fim a esta vida que tu deixaste tão preenchida e tão cheia de ternura.
Parto com a certeza de nunca termos traído o nosso pacto primordial, eternamente fiéis e dedicados. Por isso, também, parto com a convicção de que até ao fim dos tempos serás minha e eu serei teu.
Com infinito amor,
João"

Foi o amante de Irene, a mulher de João, o primeiro a ler esta nota de despedida de um suicida apaixonado.
(José Jorge Letria in Histórias do fundo da noite)

Manoel Bandeira (1886-1968)


NAMORADOS
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
- A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
Manoel Bandeira (Brasil)

Soluções à portuguesa

Detenção

Sugestão de leitura


'Foi Assim' é a história clássica de uma aprendizagem: da inocência à realidade e da realidade à sabedoria, um pouco melancólica, do adulto. Mas Zita Seabra, que ‘passou’ à clandestinidade aos 17 anos, cresceu no Partido Comunista de Cunhal, o que faz da história dela a história de uma época. Sem se justificar, sempre cândida e às vezes comovedora, Zita Seabra fala naturalmente de um mundo fantástico e brutal, que nunca foi descrito com tanta intimidade e tanta exactidão. 'Foi Assim' é o livro que faltava para perceber a grande tragédia do comunismo português.