Aeroporto de Bruxelas, 2005. Luís Campos e Cunha era ministro das Finanças e acabava de explicar aos seus parceiros europeus porque tinha Portugal afinal um défice de 7%. José Sócrates e Vítor Constâncio tinham chegado ao novo valor do défice que iria colocar Portugal em pratos limpos com a Europa e o país no rumo certo da consolidação orçamental. Enquanto esperava pelo seu voo, o ex-ministro das Finanças encontra-se com o seu homólogo grego que lhe diz num misto de irritado e incrédulo: "Vocês foram dizer o valor verdadeiro a Bruxelas. Isso nunca se faz".
Foi esta a Grécia que a Europa conheceu durante anos. Que foi pedir ajuda à troika para se salvar da bancarrota. Que teve um perdão de dívida. Que paga juros (2,3%) em percentagem do total da sua dívida pública inferiores ao que paga a Alemanha (2,4%) e Portugal (3,9%). Que tem uma moratória de 10 anos de juros e de 15 anos de capital para grande parte da sua dívida. Cujo peso de impostos e contribuições para a segurança social é de 38,2% do PIB, abaixo da média da zona euro (41,6%), abaixo da Alemanha (39,7%) mas acima de Portugal (37%).
Numa entrevista a “The Wall Street Journal”, o actual ministro da economia grego avisou que a receita fiscal está em queda e que os problemas de liquidez podem começar já em março. A explicação: mesmo antes das eleições muitas das pessoas que tinham impostos por liquidar optaram por não pagar na esperança que o Syrisa mudasse as regras do jogo. O Syrisa diz que agora tudo vai ser diferente. Deve a Europa acreditar?
(João Vieira Pereira in Expresso de 14/02/2015)
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