segunda-feira, 6 de abril de 2015

Almanaque do Cozinheiro


Como se lê no prefácio, neste livro reuniram-se escritos de Luís de Araújo relacionados com gastronomia e nele se encontra a faceta de boémio e bon vivant, nas andanças por botequins, hortas e feiras, deste português nascido em Portalegre em 5 de Abril de 1833 e que morreu em Lisboa a 12 de Janeiro de 1908. Luís de Araújo, de seu nome completo Luís António de Araújo Júnior, colaborou em vários jornais, como Diário de Notícias, Boudoir e Comércio de Lisboa, onde publicou uma infinidade de folhetins, contos e poesias. Foi também redactor de O Novo Almocreve das Petas (1871) e do Almanach de Luiz d’Araujo, que se editou durante trinta e um anos, entre 1870 e 1902.

1 comentário:

  1. O MOLHO DE VILÃO

    É já sabido e já velho
    Mas vou dizer a razão
    Porque há molho de coelho,
    Que é chamado de vilão
    Houve um frade franciscano
    Nédio servo do Senhor,
    Que era exímio caçador,
    Era ele e frei Caetano.
    Tinha espingarda de um cano,
    Todo o seu belo aparelho,
    Luzia como um espelho,
    Como um espelho luzia.
    Que ele matava o que via,
    É já sabido e já velho.
    Viu um dia um coelhinho
    Lá na horta do convento,
    Mas sentindo-o, n’ um momento,
    Abalou o tal bichinho.
    Na fazenda de um vizinho
    Foi meter-se o maganão,
    Salta um muro o frade então,
    Não atira ao ver o bicho,
    Não disse se foi capricho,
    Mas vou dizer a razão.
    Uma moça mui corada
    Mais corada que um ladrilho,
    Grita-lhe: - “Dê ao gatilho…
    Lá está ele na latada”.
    Pum! Caiu pois à chumbada,
    O frade fez-se vermelho…
    E ela disse-lhe em conselho:
    “Jante vossa senhoria,
    Hoje em minha companhia,
    Porque há molho de coelho”.
    Picou então três cebolas,
    E salsa verde picou,
    Ambas as coisas deitou,
    Num tacho, a dizer graçolas,
    Assa o coelho em três bolas,
    Porque não tinha carvão.
    Azeite e vinagre então
    Lhe deita – e piscando o olho,
    Diz: - Por ser pobre este molho,
    É chamado de vilão.

    In Cem fados de Luiz d’ Araújo.

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