Como se lê no prefácio, neste livro reuniram-se escritos de Luís de Araújo relacionados com gastronomia e nele se encontra a faceta de boémio e bon vivant, nas andanças por botequins, hortas e feiras, deste português nascido em Portalegre em 5 de Abril de 1833 e que morreu em Lisboa a 12 de Janeiro de 1908. Luís de Araújo, de seu nome completo Luís António de Araújo Júnior, colaborou em vários jornais, como Diário de Notícias, Boudoir e Comércio de Lisboa, onde publicou uma infinidade de folhetins, contos e poesias. Foi também redactor de O Novo Almocreve das Petas (1871) e do Almanach de Luiz d’Araujo, que se editou durante trinta e um anos, entre 1870 e 1902.
O Colégio das Artes, sedeado em Coimbra, foi criado pelo Rei D. João III em 1542 com o objectivo de preparar os futuros estudantes universitários nas artes liberais. Até então, não existiam instituições em Portugal que ministrassem um ensino com a qualidade que se julgava necessária para preparar os candidatos à universidade. Muitos portugueses eram obrigados, por isso, a frequentar instituições no estrangeiro, especialmente em França.
segunda-feira, 6 de abril de 2015
Almanaque do Cozinheiro
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O MOLHO DE VILÃO
ResponderEliminarÉ já sabido e já velho
Mas vou dizer a razão
Porque há molho de coelho,
Que é chamado de vilão
Houve um frade franciscano
Nédio servo do Senhor,
Que era exímio caçador,
Era ele e frei Caetano.
Tinha espingarda de um cano,
Todo o seu belo aparelho,
Luzia como um espelho,
Como um espelho luzia.
Que ele matava o que via,
É já sabido e já velho.
Viu um dia um coelhinho
Lá na horta do convento,
Mas sentindo-o, n’ um momento,
Abalou o tal bichinho.
Na fazenda de um vizinho
Foi meter-se o maganão,
Salta um muro o frade então,
Não atira ao ver o bicho,
Não disse se foi capricho,
Mas vou dizer a razão.
Uma moça mui corada
Mais corada que um ladrilho,
Grita-lhe: - “Dê ao gatilho…
Lá está ele na latada”.
Pum! Caiu pois à chumbada,
O frade fez-se vermelho…
E ela disse-lhe em conselho:
“Jante vossa senhoria,
Hoje em minha companhia,
Porque há molho de coelho”.
Picou então três cebolas,
E salsa verde picou,
Ambas as coisas deitou,
Num tacho, a dizer graçolas,
Assa o coelho em três bolas,
Porque não tinha carvão.
Azeite e vinagre então
Lhe deita – e piscando o olho,
Diz: - Por ser pobre este molho,
É chamado de vilão.
In Cem fados de Luiz d’ Araújo.